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Agricultura vertical: o potencial das hortas urbanas

Agricultura vertical: o potencial das hortas urbanas

Já ouviu falar em agricultura vertical? Esta é uma vertente da agricultura que está a ganhar espaço nos últimos anos e tem um grande potencial para revolucionar o campo. 

O conceito de agricultura vertical foi difundido em 1999 pelo biólogo Dickson Despommier, da Universidade de Columbia, em Nova York, mas a sua idealização ocorreu 20 anos antes, mais precisamente em 1979 pelo físico italiano Cesare Marchetti, quando ele procurava uma forma eficiente de alimentar a crescente população do mundo.

A ideia por trás do conceito é combinar sistemas automatizados com tecnologias a fim de diminuírem o impacto ambiental e aumentar consideravelmente a produção de produtos agrícolas de forma sustentável, sem causar grandes impactos no meio ambiente.

O método consiste em cultivar produtos em camadas empilhadas verticalmente num ambiente fechado altamente controlado e simulado, onde o ambiente natural é modificado para aumentar o rendimento da colheita. Ao invés de solo, meios de cultivo como a hidroponia e a aeroponia são utilizados, o que garante não só que as plantas recebam todos os nutrientes que precisam e cresçam com qualidade, pois utilizam uma fórmula rica em nutrientes (solução nutritiva) que circula e é reciclada em toda a instalação, atingindo diretamente as raízes das plantas como confere sustentabilidade, já que a hidroponia utiliza de 50% a 70% menos água do que outros métodos. 

Nesse sistema fechado, todos os fatores ambientais, como luz, temperatura, humidade e fertirrigação podem ser ajustados de acordo com a necessidade de cada planta, o que permite o uso consciente de recursos, em especial os naturais que estão se a tornar escassos, como a água. Além disso, as hortas indoor (prática em ambiente fechado) protegem 100% a plantação de intempéries como chuvas e ventos e de ataques de pragas e insetos.

Outro aspecto positivo sobre as hortas verticais é que elas utilizam um sistema de monitorização e de automação para aumentar significativamente a produtividade, eficiência e consistência, que também fornecem o benefício de produzir alimentos que são mais rastreáveis e seguros.

Vantagens da agricultura vertical

A criação das hortas verticais trouxe diversas vantagens e benefícios não só para o meio ambiente, mas também para a sociedade como um todo:

  • Melhoria da qualidade do ar no ambiente urbano;
  • Redução dos impactos negativos no campo;
  • Diminuição dos custos com logística e transporte da colheita até os centros urbanos;
  • Redução da contaminação do solo causada pelo uso de fertilizantes e agrotóxicos;
  • Independência das condições climáticas;
  • Redução da utilização de água.

O impacto da agricultura vertical na sociedade

Atualmente, diversas cidades estudam a construção de hortas verticais e já existe um grande número delas nos centros urbanos, a maioria a funcionar ainda em caráter experimental, com o objetivo de aprimorar e desenvolver esta tecnologia. 

A introdução em larga escala desta tecnologia tem como objetivo multiplicar a superfície cultivável, o que possibilitaria devolver as áreas de terra ao seu estado natural, ou seja, sem a interferência humana. Além disso, com a implementação das hortas verticais em áreas urbanas, os custos de transporte e logística dos produtores para os centros de consumo diminuiriam em grande escala, visto que esse é, hoje, uma das principais causas das perdas pós-colheita, e contribui com a eliminação do carbono devido à utilização de combustíveis fósseis.

Desta forma, a prática da agricultura vertical combinada com outros conjuntos de tecnologias e práticas socioeconómicas, poderiam permitir que as cidades se expandissem, mantendo-se ainda como um sistema autónomo. Isso permitiria que grandes centros urbanos pudessem crescer sem destruir áreas florestais, além de proporcionar empregos com expansão, sendo também uma forma de ajudar a reduzir o desemprego.

Outro ponto importante que precisamos citar é a oportunidade que a técnica oferece de revolucionar a produção global de alimentos, já que a população mundial só cresce e a produção de alimentos não está a acompanhar esse crescimento. 

Segundo o empresário  Stuart Oda, numa palestra para o TED Talks, em 2050 a população global está projetada para atingir 9,8 bilhões de pessoas, com 68% a viver em centros urbanos. Para alimentar toda essa população, será preciso aumentar a produção agrícola em 70% acima dos níveis atuais, o que significa que precisaremos cultivar mais comida nos próximos 40 anos do que nos 10 mil anos anteriores combinados. 

Ou seja, não só a população global está a crescer, mas está a ficar mais densa e, para continuarmos a viver, precisamos de cultivar mais comida usando menos terra e recursos. Segundo Despommier, uma única horta vertical de 30 andares poderia alimentar mais de 10 mil pessoas.

Em algumas regiões do mundo, as hortas indoor já estão a ter resultados. Nos Estados Unidos, por exemplo, existe a maior horta vertical do mundo, a AeroFarms. As instalações ficam na cidade de Newark, em Nova Jersey, e ocupam uma área de 6.410 m². Segundo a empresa, o modelo adotado é capaz de usar 95% menos água e elevar a produção tradicional até 75 vezes. No Brasil, a cidade de São Paulo foi a sede da primeira horta vertical na América Latina, a Pink Farms. Com um edíficio de 750 m² divididos em várias salas, todo o processo de cultivo é feito com o auxílio de luzes de LED que simulam a iluminação solar. A empresa utiliza a técnica hidropónica e afirma que reduz o consumo de água em 95% em comparação com os cultivos a céu aberto.

Outro exemplo, ainda no Brasil, é a Fazenda Cubo, localizada a poucos metros da Avenida Faria Lima, na grande São Paulo. Nos seus pouco mais de 90 m² a empresa já produz mais de 30 tipos de plantas, com pelo menos quatro variedades de alface, além de ervas, brotos, flores e PANCs. O fundador Paulo Bressiani, que antes trabalhava em fundos de investimentos, decidiu apostar na técnica como forma de unir os seus interesses em agricultura e tecnologia, buscando por algo que tivesse um impacto positivo no planeta. 

agricultura vertical

Por ser localizado num grande centro urbano, a colheita e entrega dos produtos da Fazenda Cubo são feitas no mesmo dia, o que acaba por eliminar a etapa de transporte e, consequentemente, reduzindo a emissão de CO² na atmosfera. A Fazenda Cubo conta com seis andares de estantes e com uma iluminação de LED proveniente dos EUA, além de utilizar perfis hidropónicos em polipropileno, material mais indicado para a produção de alimentos.

O consumo da energia elétrica

Um dos desafios do setor e que causa certo receio por parte dos investidores, é em relação aos custos de eletricidade. Os sistemas de iluminação que substituem a luz solar nesses tipos de culturas geralmente são mais caras, no entanto, um dos recursos mais acessíveis e que torna possível a implementação das hortas verticais em centros urbanos é a iluminação em LED. 

Esse tipo de iluminação consome menos energia elétrica e aparece como uma opção para que os agricultores mantenham o controlo sobre as condições de temperatura desejadas nos cultivos, simulando iluminação natural.

Esse controlo da incidência luminosa concede aos produtores a garantia de uma plantação mais saudável, com crescimento mais eficaz e um menor desperdício de água durante o processo de irrigação. Além disso, as lâmpadas de LED também despertam outra atração: a lucratividade. Esse tipo de iluminação consome menos recursos financeiros do agricultor e, consequentemente, aumenta o lucro obtido com o resultado final dos cultivos.

Por exemplo, a maior empresa privada de energia do Brasil, a ENGIE Brasil, atua em geração, comercialização e transmissão de energia elétrica, transporte de gás e soluções energéticas e de infraestrutura, e tem acompanhado as mudanças na área da agricultura. 

Para a companhia, o setor tem potencial para alavancar a economia nacional e tornar-se ainda mais promissor com a adesão de  novas tecnologias e o uso eficiente de energia renovável para geração e consumo próprio das produções agrícolas.

A agricultura vertical é uma tendência que já é realidade em muitos sítios, além de ser uma solução produtiva e sustentável, aproxima o produtor do centro de consumo, elevando a produtividade e o lucro. 

Bons cultivos ;)

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